Sabemos que crises financeiras são históricas e, de forma geral, sempre causam algum tipo de efeito na população. E o que normalmente mais se observa, nesses casos, são os fatores econômicos que impactam o orçamento das pessoas.
Por outro lado, poucos são aqueles que notam os aspectos psicológicos que levam ao esgotamento do bem-estar do ser humano e das relações sociais entre os indivíduos. “Crises são experiências coletivas de muita contaminação psicológica. Quando as bolhas estouram, como, por exemplo, na crise financeira global de 2008, elas promovem grandes movimentos e todos são arrastados por ela”, comenta o Dr. Guilherme Peres Messas, professor e coordenador da Especialização em Psicopatologia Fenomenológica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
A busca incessante por informação sobre o assunto, dormir mal, pavor, depressão, irritação, abuso do uso de bebidas alcoólicas e de drogas são alguns dos problemas listados pelo especialista e que acometem as pessoas durante períodos financeiros não favoráveis. De acordo com o Dr. Messas, a crise financeira multiplica as experiências desagradáveis e gera uma tensão em cadeia, atingindo a população de uma maneira geral: “Um funcionário, por exemplo, pensa que poderá ser demitido a qualquer momento; por consequência, a família vai senti-lo mais nervoso em casa. O noticiário, nada animador, pode ainda fazer com que todos se sintam ainda mais desesperados”, explica.
Em período de dificuldades, acrescenta o professor, as pessoas tendem a enxergar a vida pela perspectiva de queda, esquecendo, por exemplo, que o país, nos últimos 20 anos, cresceu regularmente. “Olhando ao longo dos anos, ganhamos democracia, estabilizamos a economia, surfamos de 2004 até 2013 com um grande ciclo internacional favorável. A experiência era de plenitude. O ser humano tende a perceber o sucesso como próprio, mas o fracasso como coletivo. Se olharmos por outra perspectiva, mesmo com as dificuldades que se tem, o Brasil cresceu e até abriu oportunidades”, analisa o Dr. Messas.
Segundo o professor, é típico tanto no aspecto psicológico quanto no histórico, o aumento da violência e a divisão da sociedade por convicções: “Em época de estabilidade, as convicções se tornam fluidas, as pessoas enxergam oportunidades e buscam fazer negócios com outros. Agora, quando o estado é de emergência, a rota de saída é se aglutinar para se defender e encontrar inimigos”, finaliza.
Texto originalmente publicado no boletim Conectar, edição 68, em 30/6/2015.
Disponível em: http://www.fcmsantacasasp.edu.br/conectar/ed68/index.html.